terça-feira, 20 de abril de 2010

Filosofia da Educação

Filosofia da Educação
CESSIN - Centro de Estudos Superiores de Santa Inês Filosofia da Educação. Prof°. Manoel de Jesus Fernandes POR QUE OS SERES HUMANOS SE EDUCAM?
RUBEM ALVES, 73 anos, escritor, gosta dos temas comuns da vida e escreve histórias para crianças. Assim apresenta-se o renomado educador, e vai logo dizendo: “nesse momento a minha grande preocupação e a minha grande aflição é a crise ambiental que está se anunciando sobre a terra. Há previsões de que ao final do século haverá apenas uma região terrestre para ser habitada, que é o pólo Sul, O gelo vai derreter e o resto do planeta vai se transformar num deserto. Isso me dá grande tristeza. Há muita coisa que pode ser feita para reflorestamento, despoluição, controle ambiental. Mas para mim, estes são cuidados paliativos. A coisa é muito simples: nós somos um planeta limitado, com recursos limitados. E a idéia de crescimento constante é absolutamente incompatível com as limitações do planeta”.Na internet: www.rubemalves.com.br INTRODUÇÃO: A primeira razão por que os seres humanos aprendem é para sobreviver. Nós aprendemos ferramentas de sobrevivência. Todos os saberes são ferramentas de sobrevivência, E para isso que a gente aprende. Os nossos saberes têm que ter um objetivo prático. Para que servem? Para dar competência para sobreviver. Outra coisa é que a gente aprende não só para sobreviver, mas para sobreviver bem. Nós temos padrões estéticos de beleza, de prazer, de busca. Isto faz parte da vida humana. Vida humana não é só viver, mas é vida com a toda sua exuberância cultural. O que está acontecendo é que a coisa fundamental para que isso se dê, que é a vida, está sendo colocada em cheque. Do meu ponto de vista, a primeira prioridade para a educação, seria exatamente a questão da sobrevivência da Terra. Em tudo o que se ensina deveria se fazer a pergunta: o que é que isto tem a ver com a preservação da Terra? Porque se ensina muita coisa que não tem a ver com coisa nenhuma. Mas agora existe uma prioridade, e nós temos que tomar esta prioridade que é a preservação da Terra, a salvação da Terra. OS EDUCADORES ESTÃO PREPARADOS PARA EDUCAR PARA A VIDA? Há educadores extraordinários. Há escolas extraordinárias. Mas há professores que vivem numa situação de penúria de indigência intelectual nesses confins do Brasil. Se a educação é a grande prioridade, fico desanimado. E a gente tem que pensar: o que a gente pode fazer? Do meu ponto de vista, a transformação da educação brasileira não virá de nenhum ato burocrático, institucional. Aliás, a burocracia é a grande inimiga da educação, porque a burocracia impede as soluções ou as apreensões da realidade que acontecem no dia-a-dia, porque a burocracia formaliza tudo. As coisas são todas em grade. Aliás, se usa esta expressão na escola: a grade curricular. Eu diria que a expressão grade curricular foi inventada por um carcereiro desocupado. A vida não acontece em grades. Então é preciso mudar a substância da nossa educação. COMO ISSO ACONTECE NA ESCOLA? Vou dar um exemplo bem simples, o exemplo que mais uso: acho análise sintática absolutamente inútil. Não ensina as pessoas a ler, não ensina as pessoas a compreender, não tem a menor utilidade. Por que a análise sintática está no programa? Porque devia haver algum professor de análise sintática na comissão que elaborou os programas. Os programas não são feitos pela análise das necessidades, os programas são feitos por vaidades pessoais. Então, gasta-se tanto tempo com isto. O que deve mudar? Quero muito que os alunos amem a leitura e amem os livros. Mas como é que a gente ama a leitura e ama os livros? Lendo, lendo lendo! A gente aprende lendo e não fazendo análise sintática. Se quiserem colocar análise sintática na pós- graduação, ótimo, mas para a menina lá de 12 anos de idade não tem a menor utilidade, não ensina a ler. Então, as crianças, os adolescentes, têm que ler muito sobre a nossa crise para saber o que está acontecendo. As pessoas, em geral, no dia-a-dia, não se dão conta da gravidade. E como se isso não fosse com elas. Isso é resultado do nosso hábito de televisão. Você vê as coisas acontecendo na televisão, mas nunca é com você. Sempre é uma coisa lá adiante. Então você coloca também a crise ambiental como se fosse na terra da televisão, como se não tivesse nada a ver com você, como se não fosse a sua vida e a vida dos seus descendentes. O QUE OS JOVENS ESPERAM DOS PROFESSORES E DA EDUCAÇÃO? E difícil você pensar os jovens em geral. Eu acho uma coisa: a gente aprende, tem que aprender aquilo que tem a ver com o que está em torno da gente. Se eu vivo numa floresta amazônica, não tem o menor sentido eu aprender coisas do deserto do Saara, porque não é o meu meio ambiente. Se existe um menino de 14-15 anos que vive numa periferia violenta ou no tráfico de drogas, ele precisa aprender coisas que tenham a ver com esse seu ambiente. Todos os alunos querem aprender coisas que tenham a ver com a sua vida. Mas a grande crítica dos alunos é que as coisas que estão lá não têm a ver com a sua vida. Houve uma estatística sobre os alunos que deixam à escola, e lá diz que a grande razão pela qual os alunos deixam a escola não é porque não tenham dinheiro para pagai; mas é porque a escola é muito chata. E por que a escola é chata? Porque não tem a ver com os problemas concretos que as crianças e os adolescentes vivem. E SOBRE O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE BRASILEIRA QUE É MUITO GRANDE NAS PERIFERIAS?Eu lamento muito, não sei o que dizer. O fato é que a gente está no momento com uma série de problemas para os quais nós não temos soluçao. A criminalidade hoje é uma realidade completamente diferente do que era há 30 anos. Antigamente a criminalidade era o marido que matava a esposa, por infidelidade; era um que roubava lá, que roubava cá, eram atos individuais. Hoje, o crime se constitui numa empresa riquíssima. E um negóci muito bem organizado. Então não é mais aquele pobre que assalta o outro. São empresas que se especializam em ganhar dinheiro. Logo, o crime, não é coisa de gente pobre, é coisa de gente rica, O que fazer? Eu não sei de ninguém que tenha uma resposta para isto. Então, eu me sinto assim vivendo num mundo cheio de problemas para os quais simplesmente não tenho resposta. EM TENNOS DE ESPERANÇA, O QUE DIZER PARA OS PROFESSORES E PARA OS JOVENS? Olha, as pessoas, nas coisas que elas crêem, têm sempre uma dose de esperança. A esperança que eu tenho hoje é muito diferente da esperança que eu tinha há 30 anos, por exemplo. As pessoas me perguntam: você tem esperança de que estas coisas que você acredita venham a se realizar? E eu respondo a elas: há muito tempo que não faço esta pergunta. Não estou me interessando pela colheita. Só estou me interessando pela semeadura. Se eu tenho um desafio e quero ver se a minha resposta vai dar certo, simplesmente faço o que é correto. Eu faço a minha semeadura, fico feliz com minha semeadura e vamos dizer que a colheita a Deus pertence, não está nas minhas mãos. O que importa é a gente ser honesto com a gente mesmo, viver a vida com integridade e é isso o máximo que a gente vai fazer, E se a coisa vai acontecer ou se não vai acontecer, continua semeando.

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